sábado, 29 de maio de 2010

Shellac - Auditório de Serralves, 25-05-2010

(c) preguiça_Shellac

Os lendários Shellac visitaram finalmente o nosso país. A data do Porto revelou-se um concerto empolgante e muito profissional, numa perfeita postura em palco e comunicação com a audiência que tornaram inútil qualquer artificio cénico. A banda não inventou muito no set-list, sendo que os pontos altos foram My  Black Ass, Prayer To God e a última Spoke a finalizar em grande estilo, sem deixar dúvidas quanto à não existência de encore e a arrumar o palco ao mesmo tempo. Um concerto quase perfeito onde ficou a ideia que este espaço não é apropriado para este tipo de espectáculos, mas até neste aspecto a banda conseguiu dar a volta por cima. A primeira parte pertenceu ao Mission Of Burma que conseguiram ser empolgantes em algumas alturas e ofereceram um bom concerto para aquecer os ânimos para o que se seguiria.
Diz a própria organização que este será o último concerto Amplificasom durante uns tempos e que não sabem se voltarão, esperamos que voltem e em força.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Scout Niblett - The Calcination Of Scout Niblett (2010)

Calcinar significa reduzir algo a cinza através do fogo, e quando Scout Niblett acompanha os primeiros acordes com a frase “And the voices said Just Do It!” percebemos que estamos perante isso mesmo, um disco introspectivo em que, se conseguirmos aguentar a tensão, vamos ser apresentados a muitos dos pensamentos e sentimentos mais íntimos que a atormentam .  Chegando a  I.B.D. , o terceiro tema do disco,  fica claro que, ainda por cima, não iremos ter direito a nenhuma pausa,  a terapia será constante e desviar a atenção seria uma grosseria , pelo que este não é um disco que se possa iniciar a audição de forma leve. Se entramos no mundo de Scout Niblett é para o escutarmos até ao fim.
Todo o som do disco se baseia numa guitarra agressiva e crua, muitas vezes a única companhia para a belíssima voz da cantora, mas os momentos altos são quando ela e a sua guitarra se fazem acompanhar por si própria na bateria, por ex. em  “Kings”, “Cherry Cheek Bomb” ou o mais pesado “Ripe With Life”. Lucy Lucifer, com a bateria como único instrumento seria dispensável, mas é logo seguida por uma pequena e bonita Duke Of Anxiety que a faz esquecer. No final, Meet And Greet, um titulo irónico para a despedida, que sumariza tudo o que está para trás em quase dez minutos de grande intensidade.
Um disco que se torna uma experiência recompensadora se tivermos a coragem e o respeito necessário para o  acompanhar de inicio ao fim, uma viagem onde Scout Niblett com a sua guitarra nos faz sentir os seus demónios com uma genuinidade avassaladora - não será isto o verdadeiro guitar-hero?

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Mão Morta - Pesadelo em Peluche (2010)

Passados seis anos desde Nus, e à parte os diversos projectos a que a banda e seus membros se dedicaram, seria de esperar algo de mais ambicioso neste regresso às gravações dos bracarenses Mão Morta.
Existem aqui muito poucas novidades, sendo desde cedo claro que a fórmula continua a mesma, exceptuando talvez a falta de registos mais pesados (não se encontrando nenhum Anarquista Duval ou sequer Vertigem) que dão lugar a registos mais rock e relaxados como Teoria da Conspiração ou Tardes de Inverno.
O que não falta são as musicas mais lentas e calmas que lhes são características e onde acabam por se encontrar as melhores faixas do disco. O Seio Esquerdo de R.P., Biblioteca Espectral e Tiago Capitão são músicas capazes de fazer frente a qualquer clássico da banda e têm com certeza um lugar conquistado no alinhamento de concertos próximos. Menção honrosa para Fazer de Morto, aparentemente preferida dos próprios, a soar a uns Bad Seeds a cantar em português.
Diz a banda que a ideia que rodeia as canções partiu da obra de J.G. Ballard e mais ou menos facilmente se descobrem as referências à obra do escritor, desde Metalcarne, no ponto baixo do disco, até Tiago Capitão (Noites de Cocaína?), o ponto alto, são várias as referências que se diluem nas sempre excelentes letras do disco, que confirmam Adolfo como um dos melhores letristas em português.
No fundo são uns Mão Morta competentes, com algums apontamentos de excelência mas em piloto automático e ainda sem repetir a obra prima que se espera desde Mutantes S21.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Melvins - The Bride Screamed Murder (2010)

Os veteranos Melvins estão de regresso com "The Bride Screamed Murder", um álbum que se encaixa bem no catálogo da banda ao conseguir conjugar um pouco do som dos mais recentes registos com uma sensação de regresso ao passado.    
Novamente auxiliados por membros dos Big Business, os Melvins afastam-se dos anteriores A Senile Animal e Nude With Boots ao optar por uma estrutura menos convencional nas musicas (se é que alguma vez se pode utilizar esta palavra associada a Melvins) para dar lugar a um pouco mais de insanidade e exprimentação (deviam estar um pouco reprimidas nos últimos anos).
A primeira faixa é indicativa do que está para vir no resto do disco, uma catadupa de riffs poderosos e duas baterias em diálogo para tudo acabar numa boa dose de loucura, um falso arranque que abre caminho para Evil New War Good e Pig House, as duas melhores do disco. 
A partir daqui é puro Melvins, muitas ideias esquisitas, muita experimentação, vocalizações em unissono e uma sucessão astronómica de acordes pesadissimos. Com Hospital Up a ser o melhor exemplo da loucura e Inhumanity And Death o melhor exemplo de quanto rock'n'roll estes senhores ainda têm para oferecer.
Com My Generation a banda opta por gravar a música dos The Who em tom super-lento, dando uma nova e muito longa vida ao clássico. No fim P.G. X3, na tradição de longas e estranhas últimas faixas, muito eficaz no ambiente que provoca para o adeus ao álbum.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Beach House - Teen Dream



Vamos todos fechar os olhos. Vamos todos imaginar um universo paralelo. Já está? Então deixem-me dizer que é para lá que nos leva este disco. Para um espaço alternativo, uma zona de sonho (se calhar daí o nome - Teen Dream). O disco por si só é uma descoberta. Das músicas, das letras, da sonoridade e da voz de Victoria Legrand.
2010 começou pois em grande musicalmente, com o lançamento deste disco. Que nos fala de sonhos e de sentimentos delicados. Para quem como eu não conhecia muito da discografia deste duo (Victoria e Alex Scally), ouvir Teen Dream abriu o apetite para a descoberta dos discos que estão para trás. Se calhar o disco está abençoado, já que foi gravado numa igreja que se tornou em estúdio em Nova Iorque.
Músicas como Zebra, Norway, Lover of Mine ou até Used to Be levam-nos para o tal universo alternativo que aqui já mencionei. Intimo. Envolvem-nos calorosamente, protegendo-nos do que possa estar do outro lado. E é por isso que gosto deste disco, da sensação de aconchego que ele me transmite... o desligar da ficha... o fechar os olhos, dar o passo em frente e deixar-me levar pelos sonhos deste jovem par que tanto me encantou. Em jeito de rodapé, pare... e escute pois merece a devida atenção.

Assim nasceu... Oub'lá