domingo, 27 de junho de 2010

Micah P. Hinson - Micah P. Hinson And The Pioneer Saboteurs

Micah  P. Hinson é um singer-songwriter norte-americano com fama de problemático, e  uma trajectória ascendente na sua curta, mas recheada, carreira. Num estilo saturado de bons artistas,  e pouco tempo depois da edição de um disco totalmente composto por covers, este poderá ser o  trabalho que o afirmará no seu lugar como musico a solo.
“Micah P. Hinson And The Pioneer Saboteurs”  é um disco com um sabor muito americano, onde as excelentes letras se debruçam sobre os temas habituais (almas e amores perdidos com uma bandeira norte-americana ao fundo). O som, esse, consegue variar entre longos instrumentais (quase que se consegue ouvir algo de Earth ali no meio), orquestrados ou não, e músicas puramente singer-songwriter,  como na excelente “primeira” música “Take Off That Dress For Me”. Noutras, as mais fortes do disco e em maior número, Hinson faz-se acompanhar de banda, orquestração e coros, a lembrar,  por vezes, uns Lambchop ou até Interpol, principalmente nas vozes. Não é fácil encontrar um tema que sobressaia, sendo um trabalho onde se sente um aumento progressivo de intensidade até chegarmos ao fim com a “última”, e brilhante, “She’s Building Castles In Her Heart”. O final, com o enigmático “The Returning”, fecha o ciclo e prepara o caminho para voltarmos ao inicio e ouvirmos tudo outra vez
Não é, nitidamente, uma obra prima e não vai destronar os grandes nomes americanos deste estilo, mas é um disco sólido que me parece ideal para uma longa viagem solitária, ou então como única companhia numa qualquer noite mais introspectiva. 

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Harvey Milk - A Small Turn Of Human Kindness

Os Harvey Milk formaram-se no inicio dos anos noventa nos Estados Unidos, e editaram alguns álbuns até 1998, ano em que se separaram. Nesta altura poucos fãs desta banda de culto acreditariam que em 2010  estariamos a ouvir música nova, mas depois de se reformarem em 2005  já vão no terceiro disco de originais.
Com alguns devaneios estilísticos pontuais, o melhor que os Harvey Milk sempre fizeram foi  música pesada e lenta como o diabo, para quem gosta disso (é possivel não gostar?) este "A Small Turn Of Human Kindness" dificilmente pode ser batido. São 37 minutos de riffs prolongados e pesados como o raio, fazendo com que este disco se sinta bem à vontade junto de qualquer dos melhores discos de doom que têm sido editados nos últimos anos. A acompanhar este tipo de som temos, claro, as letras angustiadas, oprimidas, depressivas e miseráveis  ao máximo, também aqui os Harvey Milk não desiludem em músicas como "I Am Sick Of All This Too" ou "I Know This Is All My Fault".
A comparação mais acertada que me ocorre a este disco, é com uma brutal ressaca que se arrasta no tempo e que em certos momentos de calma parece que se irá desvanecer mas que se prolonga e prolonga e prolonga. O que, visto deste lado do metal pesado, é um sentimento glorioso.
Devar, muito devagar, lento, muito lento, as quatro velocidades deste disco, que sem precisar de acelerações pode muito bem vir a ser do que melhor se fez neste ano e neste estilo.

domingo, 20 de junho de 2010

Xiu Xiu - Dear God, I Hate Myself


O projecto de Jamie Stewart editou este ano mais um disco (o sétimo desde 2002 e o segundo para a editora Kill Rock Stars)  que era esperado com alguma impaciência, no entanto, a notícia que  algumas músicas teriam sido compostas numa Nintendo DS e um título como Dear God, I Hate Myself , poderiam levar a crer que o álbum seria  algo longe de se poder tomar a sério. O resultado supera facilmente estas expectativas e eleva a fasquia logo na audição do primeiro tema – “Gray Death”.
O que temos aqui são músicas de alto teor depressivo, mas que conseguem soar esperançosas – por ex.  “Chocolate Makes You Happy” ou “Dear God, I Hate Myself” -  devido a uma sensibilidade pop muito apurada. Os temas predominantemente Nintendo são os mais arriscados e fáceis de passar a frente (“Apple For A Brain” ou “Secret Motel”), mas o disco acaba por aproveitar bem esta inesperada fonte de sons e melodias e incorpora-las em bonitos temas como “The Fabrizio Palumbo Retaliation” ou “This Too Shall Pass Away” a lembrar até algum do trabalho de Owen Pallet.
Um disco que se pode tornar frustante ouvido  de principio ao fim, mas que merece ser descoberto música a música.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Temos Manta...


(Blood Red Shoes)

No próximo mês de Julho, nos dias 22, 23 e 24, o Jardim do Centro Cultural Vila Flor em Guimarães, recebe mais uma edição do Manta. Apesar de o intitularem "festival", o rótulo não é bem aplicado. Falamos de uma série de bons concertos, sem bandas de apoio, sem longos momentos de espera, num espaço maravilhoso, bem no meio da cidade, com uma bela vista sobre o Castelo e o Paço dos Duques e também sobre a Penha.
O cartaz deste ano revela-se altamente promissor! O Manta aliás, começa cada vez mais a ser um palco de lançamento de bandas que pouco tempo depois se afirmam no contexto internacional musical. Assim aconteceu com os Liars e com os Bishop Allen.
Aliado a isto, apresentam-se também bandas já com afirmação internacional como os The National (um grande concerto) e os The Young Gods.
Este ano o Manta não foge a este figurino e no cenário perfeito, apresenta-nos um cartaz composto por School of Seven Bells (22/07), Blood Red Shoes (23/07) e The Phenomenal Handclap Band (24/07).
Serão concerteza 3 grandes noites, como aliás tem sido hábito do Manta, onde a música se alia a um espaço cultural de referência e a uma cidade historicamente marcante.

domingo, 13 de junho de 2010

65daysofstatic - We Were Exploding Anyway

Eles avisaram com o EP que antecedeu este "We Were Exploding Anyway", a hora é de apostar na electrónica, pelo que já se esperava um pouco esta nova direcção. Neste disco as guitarras e a bateria continuam presentes, as música instrumentais e em crescendo continuam a ser a regra, só piano é que já não se encontra facilmente, está praticamente esquecido ou abafado sob muitas e ousados sons a puxar ao electrónico. Se calhar foi um passo ousado de mais, as ideias continuam lá e as músicas são boas, mas ao fim de algumas audições alguns pormenores revelam-se exagerados e difíceis de ignorar. "Piano Fights" parece ser a única música sem mácula, enquanto "Crash Tactics", "WEAK4", "Debutante" ou a parte final de "Tiger Girl" revelam momentos de brilhantismo. Menção honrosa para a participação de Robert Smith no tema "Come To Me", uma boa música a trazer as únicas vozes ao disco.
Os 65daysofstatic ter-se-ão recusado a estagnar num estilo já de si bastante saturado e pareceram querer criar um novo electro-post-rock, por mim tudo bem, o disco pode mesmo considerar-se um sucesso visto desta forma, mas não me parece que vá resistir ao tempo da mesma forma que os seus antecessores, e alguns dos seus temas mais brilhantes, conseguiram.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

PAUS+HEALTH - Casa da Música - 02/06/10


(c) cochise_HEALTH

(c) cochise_PAUS


Em véspera de feriado o caminho que se seguiu foi o da Casa da Música. HEALTH era o principal motivo de tal deslocação, isto porque o último disco da banda, "Get Color", nos surpreendeu pela positiva.
À chegada adivinhava-se que este concerto não iria ser uma enchente, nem para lá caminhou, mas que teríamos uma sala bem composta. Um ligeiro aparte, para referir que a Sala 2 da Casa da Música é o espaço ideal para sonoridades como esta. A relação de proximidade que se estabelece com a banda, a vibração que passa entre quem toca e quem ouve e vê, é sem dúvida elevada ao seu máximo nesta sala.
Mas passemos aos concertos propriamente ditos. A surpresa da noite estava realmente reservada para os PAUS, um novo projecto português que conta com elementos que já passaram pelos Vicious Five, Linda Martini, If Lucy Fell e Riding Pânico. Foram cerca de 30 minutos de grande som, que se deve seguir com bastante atenção pois vai dar que falar com toda a certeza.
Após uma pequena pausa para se proceder à troca dos materiais das bandas, sobem ao palco os HEALTH que tiveram um inicio demolidor e frenético. Um concerto bem rasgadinho onde a interacção com o público foi muito pouca, e onde quase nem ouve tempo para respirar tal foi a intensidade do mesmo. Os 60 minutos de duração do concerto passaram a voar! A voz melodiosa de Jake Duzsik contrastava com a as guitarras, sintetizadores e batidas que cada um dos elementos da banda californiana tocava. Para o fim ficaram reservados os grandes hits e apenas um encore.
Uma noite de surpresas sem dúvida. Recheada de boa música, com PAUS a encherem e de que maneira as medidas e HEALTH a revelarem-se altamente psicadélicos onde o débito de décibeis foi bem acima da média. Os rótulos de "noise rock", "electronic" e "experimental rock" assentam-lhes que nem uma luva.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Grizzly Bear - Coliseu do Porto - 27/05/10

(c) cochise_GRIZZLY BEAR

Numa semana atípica no Porto, onde a proliferação de concertos (The XX, Shellac, Thee Oh Sees ente outros) foi a nota dominante, partimos em direcção ao Coliseu para ver uma das bandas revelação de 2009, que com o disco lançado nesse ano,"Veckatimest", se afirmaram no meio musical "indie".

Não foi de estranhar a fraca afluência ao Coliseu, não pela qualidade do concerto que teríamos pela frente, mas sim por a vasta oferta de concertos já mencionada. A "olhómetro", arrisca-se o milhar de pessoas, e já estamos a ser bonzinhos! Foi pena que tal tivesse acontecido.

Antes dos Grizzly Bear, fomos "confortados" por uma Cibelle a solo. Bem diferente do que vimos em Guimarães em 2007, onde se fez acompanhar de banda. No Porto, e 3 anos depois, foi uma Cibelle mais calma, sempre a interagir com o público e que nos entreteve durante 30 minutos.

Bem dispostos e aparentemente contentes (o Porto, segundo disseram e repetiram inúmeras vezes, deslumbrou-os) surgem dando as boas noites em português. E foi uma entrada em grande com "Southern Point". Surpreendem-nos com a faceta de músicos multifacetados, e na 3ª música do alinhamento a improvisação aparente arrebata-nos.
Em "Two Weeks", o hit do comercial televisivo, convidam Cibelle a entrar em palco e a acompanha-los nos coros.

Nesta fase o concerto revelava-se já grandioso, não só pelos músicos em palco, mas também pelo brilhante desenho de luz, que tornou ainda mais brilhante o concerto, explorando e bem a musicalidade dos "Grizzly Bear".

Perto do fim do concerto pedem a todos que se ponham de pé, como se estivessem numa discoteca numa sábado à noite. Saem de palco pouco depois, entrando para o encore final, onde terminam com a versão acústica de "All We Ask".
Revelou-se um grande concerto. O que se houve no disco transpõe-se para o palco. As vozes revelam-se acertadas e complementam-se. Grandes músicos que debitam grandes músicas e que em palco se revelam brilhantes!

The National - High Violet


Na primeira audição do disco fica-se com uma sensação de desilusão. Não era aquilo que eu queria ouvir. Mas após mais umas quantas rodagens, comecei a ouvir o som dos The National… o som deles estava lá, e a primeira palavra que me vem à cabeça após High Violet se entranhar na pele é a de melancolia…

Mais umas quantas rodagens no rádio do carro e já não há dúvidas para mim: este disco vem um pouco na linha dos anteriores, nomeadamente Boxer ou Alligator. E ao dizer isto, não quer dizer que seja mau… antes pelo contrário, é bom! “High Violet” é um grande disco! Muito bem trabalhado, com tudo no sítio. Vê-se que estes 5 rapazes de Brooklyn sabem bem aquilo que fazem. Definiram um caminho, o das grandes músicas, e é por esse mesmo caminho que querem seguir.

Com este disco os The National serão certamente considerados uma das grandes bandas da actualidade e uma das que ficará para a história da Música. São, sem dúvida, uma banda “com pinta”.

Em “High Violet” podemos encontrar músicas que nos fazem sentir aconchegados, mas que nos levam para a tristeza, para territórios depressivos e de introspecção. A voz de Matt Beringer ajuda a que isso aconteça e o mesmo se pode dizer das letras. Mas resumindo... vale a pena ouvir, porque em 2010 poucos serão os discos que atingirão o nível deste. Será um dos melhores do ano!